quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Sobre o amor de alguém

"Daqui a pouco terei um filho chamado Vicente. Neste instante ele se encontra na barriga de sua mãe, que é meu amor e minha mulher. Ele ainda não me viu, embora eu já o tenha visto em meus sonhos, correndo pra lá e pra cá, rindo alto como faz todo moleque azougado.
Acho que ele vai ser uma criança bacana, dessas que respeitam os mais velhos, comem salada e amam seus amigos. Tomara que seja corajoso feito a mãe – porque o pai é um frouxo. É duro pensar essas coisas, mas quando ele estiver crescidinho terei de confessar: “Filho, teu pai morre de medo de planos econômicos, golpes de estado e reformas ortográficas”. Seria muito bom que ele não tivesse vergonha de dançar e, se jogasse bola, chutasse bem com os dois pés.
Mês que vem, ele vai nascer. A barriga da mãe está enorme, a gente fica olhando e pensando no tempo, na natureza, nas bonitezas que há por aí. É como se o universo agora fosse regido por uma nova órbita cujo eixo é o umbigo de Andrea. O coração de Vicente é a força motriz que alinha os astros, regula as marés, alumia o dia.
A gente vai festejar. Reunir os amigos para falar de coisas grandes e pequenas, dragões que cabem no bolso e peixes que sabem cantar. A festa será no domingo - enquanto Deus cochila.
Logo, logo serei ancestral. Meu filho evém. Mastigando nuvens, conduzindo barcos de papel. E eu serei homem de outro sopro, de outro barro. Volto a ser menino quando me tornar avô.
Domingo, ainda serei menino".

P.S.: Esse é um convite de Evandro Camperom. Não incluiu leitores e ouvintes da sua boa música. Mas eu admiro a sensibilidade.

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